segunda-feira, 21 de março de 2011

MEMÓRIAS HISTÓRICAS...


As transformações mexem comigo de um forma absurda, sei que mudanças acontecem, mas pensar que posso acordar e não reconhecer mais o espaço a minha volta me assusta.
Cheguei a esses pensamentos durante um passeio, no fim de um dia cansativo iluminado por uma linda lua, na companhia de uma amiga destra. Aquela caminhada me trouxe a memória fatos há muito esquecidos, de uma época que pessoas serenas e rainhas de bandas de carnaval faziam parte do meu dia-a-dia. Pensei em cada momento, cada sorriso, e entre uma história contada e uma história apenas pensada me deparei com as ruínas daquelas lembranças. Senti meus olhos mareados e um aperto no peito.
Lembro da primeira vez em que pisei lá, consigo reviver cada sensação, o "medinho" da rejeição, o gosto livre e refrescante da maturidade que passou pelos meus cabelos feito brisa da madrugada, como me senti ao lado da moça alta e loira com pinta de maluca que conquistou o posto da irmã que nunca tive, como amei rapaz-feijão à primeira vista e, como se fosse um filme, vivi momentos intensos de amor e desamor.
Aquele prédio, de alguma forma inexplicável, fazia parte de mim, mesmo ao passar em frente conseguia escutar as risadas, as discussões políticas ou apolíticas que aconteciam nas mesas de um azul-descascado, sentia vida enraizada nas paredes.
Tristeza, esse é o sentimento que retrata a minha reação no momento em que reconheci minha história em meio aqueles entulhos , repeti inúmeras vezes "acabou, tudo se foi", porém, ao olhar de uma forma menos pessimista (afinal a rapadura é dura mas é doce) percebi a imponência da História nas paredes amarelo-sujo do casarão que viu tantas vidas acontecendo, por alguns instantes vislumbrei os trabalhos grandiosos que nos davam a sensação de sermos grandes, únicos, fazendo a diferença.
É, o concreto se foi, mas o que importava ficou. Aquelas personagens que mudaram a minha vida sempre estarão vagando perdidas em minha memória, quando eu sentir saudades, é só fechar os olhos e sonhar com aquelas noites de verão que passava sentada nas escadarias escutando os "causos" da cozinheira da voz de anjo, da carioca sonhadora, de uma advogada mãezona, de três meninas que viraram mulheres, do homem de cera e de tantos outros que eu amei e que me amaram. Dedico à vocês, grandes historiadores, este pedaço de memória.