segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SÍNDROME DE TOWANDA...


Lembro-me da primeira vez que minha vó me viu chorar assistindo um filme, mas essa memória gira em torno de uma série de acontecimentos importantes em minha vida.
Naquele dia descobri um dos filmes mais brilhantes que já assisti, "Tomates Verdes Fritos". O nome me chamou a atenção na propaganda, afinal pensei em como seria um filme com esse nome, mas ao assisti-lo, me encontrei no mundo, senti que queria ser Towanda, a mulher destemida, forte que nasceu em uma família simples mas cheia de grandezas.
Sabe quando se descobre uma vocação que nos assusta? Pois foi assim que descobri a História, o poder dos fatos e como poderia viver daquilo.
No mesmo momento em que quis ser Towanda e amante da História, decidi ser mulher (aos 12 anos, ser mulher tinha outro sentido), decidi que tomaria as rédeas da minha vida.
Sei que muitos se perguntam como uma menina de 12 anos pode pensar nisso, bom, eu pensava.
Pensava no que eu queria da vida e no que ela me daria se eu a tratasse com dignidade, como eu conquistaria o mundo (o meu mundo, sem pretensões descabidas, por favor) e como me faria ser ouvida.
Levantei num repente, fui até a sala e gritei em plenos pulmões "TOWANDAAA", minha vó levou um susto e perguntou se eu estava ficando louca, respondi que só queria ser uma grande mulher, ela riu e disse: "Continue assim, pois você está seguindo o caminho certo, afinal, até a nossa loucura tem que ser clara e forte".
Voltei para o meu quarto, terminei de assistir o filme com o gosto do amadurecimento em minha boca, aquele gostinho de menta, uma sensação fresca, nova.
Pode parecer loucura, mas aquele filme me trouxe mais do que diversão, me trouxe o que chamo hoje de Síndrome de Towanda, ou seja, a necessidade da força, de amar, a simplicidade de se libertar.

APENAS UM DESABAFO...


Faço um apelo à todos. Peço observação, cuidado aos que estão ao nosso lado. Olhemos mais as pessoas nos olhos, escutemos mais o silêncio da juventude, isso pode salvar.
Mas não pensem em salvação física, pois o corpo é carne consumida pela terra, pensem na salvação espiritual, nossa e dos nossos. Aqueles que vemos todos os dias e que muitas vezes ignoramos são nossos, nos pertencem de alguma forma.
Ser professor não é apenas passar um conhecimento adquirido de um conjunto de papéis que agrupam contas, fatos e palavras. Essas informações nem sempre são as necessárias.
Sei que eles não tem nosso sobrenome, mas muitos nos vem como a chance única de atenção, a certeza de um sorriso sincero.
Não digo que devemos adotá-los, digo que devemos ama-los de alguma forma, saber quem são aqueles que nos observam durante tantas horas no dia, pois a sensação de impotência que corre em minha mente ao ver o sofrimento de pais que recebem a notícia da perda de um filho é apavorante, ainda mais quando lembro que ensurdecemos nossos corações.
Será que estamos nos perdendo em meio às facilidades? Será que perdemos a sensibilidade, a compaixão pelo outro?
As lágrimas invadem meus olhos ao pensar que os sonhos de muitas crianças são ignorados, que elas já não podem mais esperar o futuro, pois ele foi arrancado de seus pequenos corações.
Hoje, alguns fios que nos prendiam à esperança se arrebentaram, mas os meus, eu guardo bem seguros dentro do meu coração e espero que todos se agarrem aos seus, pois sem nossas crianças, o que será de nós?


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

BREVIDADE DA VIDA...


Entre as ondas de calor que rondam meu quarto e as melodias de Cazuza que rondam meus ouvidos, pensei no tempo e na poesia. Surgiu, assim, como se fosse um estalo, veio a criatividade, a tentativa de prender a beleza com as palavras.
Eu, que sempre fujo das inspirações diárias, resolvi abandonar o sono e buscar nas horas da madrugada silabas que completassem meus devaneios mais profundos.
Que trabalho difícil esse de escrever, que dureza colocar no papel (com a tecnologia, no computador) as sensações que envolvem meu corpo neste momento. A ansiedade dentro do meu peito, os caminhos que se iluminam, as portas que se abrem e, ao invés de andar, eu paro.
Paro, olho e escuto mais uma vez Cazuza dizendo que a vida é breve, penso novamente no tempo, nas escolhas que fiz, em tudo o que já vivi. Será que valeu a pena?
Aceito, faria tudo novamente, sem mudar uma vírgula, pois a vida foi boa comigo, transformou meus erros em aprendizado, meus machucados em troféus e as minhas vitórias, ah, essas eu deixo para os outros admirarem, pois se venci não preciso mais (ainda preciso, mas tento praticar o desapego diário, quase que me enganando) quero novos desafios, viver da adrenalina, do frio na barriga, viver o tempo que resta.
A vida é passageira, mas o tempo é relativo, em um ano posso viver a eternidade, mas posso perder a alma em apenas um segundo.




"Com papel e caneta na mão, eu posso parar a beleza."

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

UM SIMPLES SABONETE...


Acho que em todos os textos falo sobre as minhas memórias, mas não consigo me imaginar vivendo sem lembrar de que tive uma vida muito linda e feliz (e ela está cada vez melhor), por isso mais uma vez venho aqui falar das cenas que preenchem minhas noites de insônia.
Durante uma volta em um ônibus pelas "calles" de Buenos Aires, entre as lembranças de uma infância não muito distante, me deparei com uma personagem que marcou a minha vida, e tenho certeza de que marcou a vida de muitas pessoas no bairro em que cresci em São Paulo, a Bela Vista, popularmente chamado de Bexiga.
Era conhecido com Toninho Babão, por causa de uma deficiência que eu desconheço. Vivia na R. Manoel Dutra, sempre sentado na porta do joalheiro Mirimi. Todos mexiam com ele, pois era um palmeirense fanático, que ficava muito bravo quando a molecada do bairro gritava "RIPA NO PALESTRA", acho que nada tirava mais o Toninho do sério do que aquilo.
Eu via tudo de um ângulo mais simples, da visão de uma menina de uns 5 ou 6 anos de idade, onde os pequenos gestos são marcantes. Nunca aborreci o Toninho, o amava como um amigo, pois ele me tratava assim.
Aquele homem com pensamentos de criança marcou minha infância de uma forma única. Durante anos ele se sentava a porta da minha casa, na Rua Dr. Luís Barreto, no dia do meu aniversário com um pequeno embrulho em suas mãos, uns dos presentes mais singelos e adoráveis que já recebi, um sabonete.
Hoje vejo algo muito maior naquilo, vejo um sentimento impossível de descrever, pois o valor não estava na matéria, mas no olhar e nas tentativas do Toninho de falar para todo mundo que me conhecia desde pequena. Com seus gestos com as mãos e sua fala comprometida, ele demostrava um afeto por mim que acho que nunca mais encontrei em ninguém.
Me lembro do dia em que recebi a notícia de seu falecimento, era um domingo de calor em Santos, naquele instante senti uma parte, maravilhosa, da minha infância indo embora junto com ele, chorei como se tivesse perdido um parente próximo.
Naquele dia perdi um grande amigo com quem nunca troquei uma palavra, mas que sempre falou com seus lindos olhos azuis o quanto eu era importante para o seu mundo, e isso já me bastava.