segunda-feira, 30 de agosto de 2010

INDEPENDÊNCIA OU MORTE ...


Como professora de História, falo muito do 7 de setembro, dia em que o Brasil se tornou independente, mas sempre agregando um valor intelectual ao evento. Porém esqueço o quanto esta data tem um valor sentimental para mim, na realidade não esqueço, acho que é por isso que falo com tanta vontade, por ter um estalo de nostalgia.
Sabe aquele dia que, mesmo depois de muito anos, não abandona a memória? Para mim, esse dia é sete de setembro de 1996, um sábado.
Um sábado de sol, é foi esse o dia, meu primeiro desfile de 7 de setembro. Fiquei encantada com todas aquelas crianças marchando no ritmo da fanfarra.
Parece que foi ontem. Era meu primeiro final de semana morando em Santos. Minha mãe e minha tia Bel resolveram fazer um passeio até a avenida da praia, comigo e com a Amandinha, que nem tinha completado um ano.
Minha mãe, como sempre, muito preocupada nos besuntou de protetor solar. Morávamos na r. General Rondon, num prédio marrom, (foi neste prédio que aprendi muitas coisas, mas essa já é uma outra história) à uma quadra da praia. Minha tia colocou a Amanda no carrinho e fomos, as quatro, em direção à praia.
O sol estava forte, mas a temperatura era perfeita para o passeio. O calçadão estava cheio de pessoas que queriam assistir o desfile, outras que queriam apenas caminhar e outras, como eu, que estavam descobrindo um mundo novo, cheio de cores e sons. Era menina com bastão aqui, menino fardado ali, muito militares, acho que neste momento comecei a estruturar a minha opinião política a partir do que ouvi minha tia e minha mãe conversando com uma senhora quase da idade da minha vó, mas esse é um assunto que não me permito falar (rs). Todos os instrumentos num ritmo único, uma batida gostosa. Não era bem uma melodia, mas era a balada que enchia o ar com a graça e a delicadeza dos movimentos das crianças que representavam suas escolas.
Mas o momento que marcou esse dia não foi bem o desfile. Quando tudo se acalmou, o movimento da praia estava se transformando, resolvemos (minha tia e minha mãe resolveram, afinal eu só era uma criança) caminhar na calçada da praia. Essa caminhada foi única, pois foi assim que comecei a descobrir a cidade. Andamos até o canal 3 e nos demos conta da distância. Por alguns instantes nos desesperamos, mas como toda família de pessoas gordinhas que se preze, fomos tomar um sorvete com o pouco dinheiro que minha tia tinha no bolso, afinal para que levar mais se só íamos até a praia perto de casa.
Andamos mais um pouco e adentramos a Ana Costa, que tinha um visual muito diferente do atual, eu, particularmente, achava mais charmosa. Tomamos um sorvete do Mc Donalds e depois voltamos para casa, onde minha vó já estava quase chamando a polícia por causa do nosso desaparecimento
Neste momento você deve estar se perguntando sobre onde está a magia da coisa. Bom, eu te digo. A magia do momento está na grandiosidade dessa memória em minha vida. Lembro de cada segundo daquele dia. Fecho os olhos e consigo sentir o cheiro da praia e escutar as pessoas passando ao meu lado. Sinto minha mãe pegar na minha mão, de vez em quando, enquanto conversava com a minha tia sobre assuntos que eu não tinha a menor ideia do que se tratava, mas fazia cara de entendida. Lembro de brincar com a Amandinha e ela sorrir de uma maneira única, com uma boca com poucos dentes.
A lembrança é mágica. Pode parecer uma bobagem para alguns, mas pode ser o refugio de outros.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

SOU CONTADORA DE HISTÓRIAS...



Ao olhar o vidro da sala de aula vi seu sorriso meio maroto, abriu a porta e disse com todo carinho:

- Você sabia que ontem foi o Dia do Historiador? Parabéns!

Saiu com o mesmo sorriso que entrou, poucas palavras, mas sempre as necessárias em uma manhã de sexta-feira.
Aquele momento me fez pensar sobre o quanto gosto de ser contadora de histórias, isso mesmo que você leu, nem professora e nem historiadora, mas contadora de histórias.
Pode parecer estranho o modo como me coloquei, mas o título de professor é muito pesado, passa uma sensação de autoridade que eu não sou muito fã e o título de historiadora só uso para mim, nos momentos que quero me sentir grande, imponente, naqueles momentos que tenho vontade de sair correndo da escola, nestes momentos uso ele para massagear meu ego.
Ser contadora de histórias é suave, leve, me sinto flutuar em sala quando começo a falar (coisa que gosto pouco de fazer). Cada palavra que sai da minha boca é como se as imagens se materializassem na minha frente.
Tudo é pura magia, encarnar as personagens, pensar que mesmo os piores ditadores tinham as maiores mentes, visualizar as batalhas, sentir o cheiro úmido dos castelos, entender os amores amáveis e os amores políticos, sempre com a mesma paixão.
Cada aula, uma nova descoberta, um novo interesse, aquele brilho de curiosidade no olhar. Finalmente o ápice de ser contadora: no final do dia eles entendem, questionam, debatem, xingam as atitudes que não aceitam dentro da compreensão social de nossa época e sorriem, como sorriem.
Sorrisos de "ótima historia", sorrisos de " agora eu entendo o porque de certas coisas" ou o melhor dos sorrisos, aquele que diz "obrigada por me explicar o que ninguém nunca explicou".
Não estou dizendo que sou a melhor contadora que já existiu, mas posso afirmar com todas as letras de que sou uma das mais felizes, mesmo com as dificuldades que encontro no dia-a-dia, amo o que faço, sinto um prazer único.
Nesta manhã me senti grande, brilhante e declarei que dia 20 de agosto é o dia do Contador de História!!
Então, me desejo parabéns pelo meu dia!!!!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

COMPARAÇÕES INCOMPARÁVEIS...


Acho que todos conhecem aquela música que diz assim " minha dor é perceber/que apesar de termos/feito tudo o que fizemos/ainda somos os mesmos/e vivemos/ainda somos os mesmos/e vivemos/ como nossos pais". Vendo umas fotos que tirei no final de semana pensei muito nessa música e nos meus maiores medos, entre eles ser parecida com meus pais.
Nunca gostei de comparações do tipo, "nossa, mas como ela está parecida com a mãe" ou "é a cara do pai", afinal, eu sou eu, não quero ser parecida com alguém, quero ser única.
Sempre fui muito critica, sempre questionei os posicionamento dos meus pais perante a vida, só que viver de criticas é muito fácil. Questionar sem aceitar questionamentos é mais fácil ainda.
Sei que parece crueldade, mas quem nunca teve medo de cometer os mesmo erros que os pais que me atire a primeira pedra. Sou um ser humano, dotada de dúvidas, erros e medos. Porém, sou dotada também de momentos de clareza pessoal.
Em um desses momentos de clareza pensei no tamanho do peso de ser um modelo, afinal os pais são modelos, não importando se vamos segui-los ou não. Eu, como professora, deveria saber bem disso, sou modelo também, formo opiniões, por mais que em alguns momentos essas opiniões sejam adversas.
Depois de muito refletir percebi que não tem como fugir do destino, sou produto dos meus pais, sou o que eles são, claro que de uma forma diferenciada, mas sou isso.
Sou uma mistura muito interessante de Cleber e Aninha, sou diversão e mal humor, prepotência e humildade, carência e auto-suficiência, sou tudo e nada, sou eles e sou eu, mas sou algo único.
Então se sou única por ser um produto da soma deles, não tenho o que temer, posso sentir orgulho de ouvir coisas do tipo "sua voz é igual a da sua mãe", afinal nada me acalma mais (em alguns momentos, é claro) do que ouvir minha mãe falando besteiras do outro lado da linha, ou " você é muito parecida com seu pai, olha, o rosto é igualzinho", devo agradecer, pois quantas pessoas não tem uma referência de visual de que vai envelhecer bem.
Acho que consegui substituir alguns pensamentos amargos por lembranças doces, suaves. Ao invés de ter medo, fico feliz por ser produto de pessoas tão diferentes em todos os sentidos, afinal ser único é aceitar que o outro constrói a nossa unidade.
Bom, vou parar por aqui, afinal acho que cheguei no meu limite de pensamentos sem sentido e sem parágrafos.

domingo, 8 de agosto de 2010

NOSTALGIA DOCE...


Sempre ouço as pessoas me chamarem de nostálgica, dizem que vivo de passado, que me apego ao que já passou, mas fazendo uma análise simples do que vivo, acho que as lembranças que me mantém viva.
A perda da memória é algo com o qual eu não sei lidar, consigo lembrar até das coisas que as pessoas me falaram há anos atrás.
As lembranças são suaves e fazem bem. Lembro do cheiro que sentia quando chegava da escola, a casa estava tomada pelo perfume de batatas coradas e feijão fresco, nossa me senti feliz, pois aquele cheiro maravilhoso embalava as conversas mais gostosas com meus avós durante o almoço, era muito bom, lembro também do cheiro do café-com-leite que minha vó preparava, eu acordava mais cedo para tomar café da manhã com meu avô e escutar os programas do rádio, não entendia nada, mas me sentia adulta por escutar aquilo, a música que tocava naquela época é a mesma até hoje, algo do tipo "Vambora, vambora, tá hora, vambora, vambora", adorava essa músiquinha.
Essas memórias são mágicas, é como se eu pudesse assistir as temporadas da minha vida quando me desse vontade.
Posso fechar os olhos e lembrar dos sábados de faxina com a minha mãe em que escutava-mos uma rádio onde só tocava samba e pagode, eu ajudava (parece mentira, eu sei) limpando as portas e varrendo os tapetes, em muitos momentos a minha mãe parava o que estava fazendo e me tirava para dançar, nossa, era demais. Quando estava frio, depois da limpeza, nós duas íamos até a locadora perto de casa, minha mãe me deixava escolher um desenho e ela pegava um filme , na maioria das vezes era ação, saíamos de lá e para completar, ela comprava um monte de coisas gostosas para a gente comer durante o filme, embaixo das cobertas com a casa cheirando a limpeza, ai que saudades daquele tempo.
Quanto mais escrevo, mais me convenço de que aqueles que só pensam no futuro ou que me chamam de museu, pois vivo de passado, nunca sentiram o sabor doce da lembrança. As lembranças são a nossa certeza de que vivemos da melhor forma, que não deixamos passar nada.
Eu sei que vivi plenamente até agora, que errei o que tinha que errar, que amei o necessário, que sorri muito e que chorei além dos meus olhos, sei que presenciei retornos alegres e despedidas tristes, mas sei principalmente que aprendi bastante com as minhas memórias e que sou o que lembro, pois sou amor, lágrimas, cheiro de café-com-leite e faxina.
E você, já sentiu o sabor doce da nostalgia?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

PAPILAS EDUCATIVAS...



Sabe aqueles dias que te fazem pensar sobre tudo? Hoje foi um desses dias pra mim. Pensei sobre tanta coisa, mas o momento que mais me acrescentou foi voltando pra casa, depois de um dia corrido e cheio de informações, palavras, rostos e sentimentos. Lembrei das conversas que tive com meus alunos e tentei compreender qual o gosto de dar aulas. Concluí que o sabor das aulas é como algodão doce. Isso não quer dizer que é bom, mas também não quer dizer que é ruim. Sei que parece estranho, mas as sensações que tenho quando como um algodão doce são as mesmas que tenho em sala de aula.
O primeiro pedaço e sempre maravilhoso, leve, me sinto comendo um pedacinho de nuvem. O segundo vem para lembrar como o primeiro foi delicioso. Quando chega a metade, o prazer ainda é grande, o paladar é único e maravilhoso, mas a boca começa a ficar estranha, pedindo um pouco de água, mas mesmo assim eu continuo comendo, afinal adoro algodão doce. Porém, quando chega no final, a sensação é péssima, parece que dói, a boca fica estranha, os dentes estão sensíveis e o estômago reclama, mas caso me ofereçam no dia seguinte, eu aceito com a vontade de quem ficou muito tempo sem provar aquilo.
É assim que me sinto dando aulas, o sabor de cada manhã é impossível descrever, os comentários dos alunos, mesmo aquelas palavras sem sentido que alguns soltam me fazem bem, me completam. Tem momentos que gostaria de abrir mão de tudo, penso " mas que dia cansativo", mas no segundo seguinte me lembro de algo engraçado ou do olhar curioso dessas figuras com quem convivo todos os dias.
É, ser professor é isso, passar a vida saboreando cada momento, mesmo os azedos me divertem, afinal quem chupa limão faz careta e incentiva o outro a sorrir.



"De que o mel é doce é coisa que eu me nego a afirmar, mas que parece doce eu afirmo plenamente"
Raul Seixas

domingo, 1 de agosto de 2010

SERÁ A MORTE O FIM DE TUDO?


Ontem, mais uma vez me deparei com a estranheza da perda. Ela adentrou meu quarto, ascendeu a luz e disse: ele morreu, eu tenho certeza, olha o que escreveram. É assim que a morte chega, sem avisar, sem explicar o motivo.
Quando eu era pequena achava que morrer era algo complicado, não percebia tanto a morte, tinha a mesma opinião que a minha priminha, "mamãe, como ele morreu se não era velho?", mas com o passar do tempo a morte se torna algo mais rotineiro, atingiu o nível da normalidade.
Só que a minha maior dúvida é por que não conseguimos lidar com algo considerado tão simples, que acontece todos os dias?
Perder alguém nos causa um vazio inenarráel, é como se a mente parasse por um tempo, dependendo do tamanho da dor, indeterminado. Mas mesmo sabendo que dói, que machuca, tem pessoas que ainda tem a falta de sensibilidade de dizer "Você é forte, supera isso fácil!". Mas se eu não quiser superar? E se eu precisar sofrer muito? Quem sabe de fato o que eu preciso? Quem sabe o tamanho do meu sentimento pelo outro? Afinal se tem algo que não se contabiliza, esse algo é sentimento.
Nos últimos anos perdi muitas pessoas, cada uma com um nível de participação em minha vida, algumas eu aceitei a partida, mas tem aquelas que não me saem do pensamento diariamente, pois não consigo pensar em certos momentos sem elas.
Sei que parece meio mórbido falar sobre a morte, mas pensem bem, a morte está no ranking das maiores loucuras do homem. As pessoas ganham dinheiro com a morte, ou seja, ganham dinheiro com o sofrimento e a tristeza do outro, acho isso mais mórbido do que apenas falar sobre. Eu sou uma pessoa que nunca me senti muito confortável com o assunto, na realidade ainda não me sinto.
Neste momento muitos devem se perguntar o motivo dessa postagem, afinal, que pessoa fala de algo que a machuca tanto?
Um certo alguém sempre pede a minha sinceridade, mas hoje acordei sentindo que não tenho sido sincera comigo, estou com medo e não aceito, me sinto meio perdida com a proximidade da perda iminente da força da minha vida, do meu ar. Tento todos os dias acreditar que não é verdade ou que mesmo quando a matéria se for, nós teremos um ao outro num outro plano, mas essa só é uma medida paliativa para aliviar a minha mente.
A nova conquista da minha vida, expor meus medos para o mundo, sem pensar no que o mundo acha de tudo isso. Além disso, perceber que a morte está relacionada ao medo que está totalmente ligado às reações rudes que tenho com as pessoas que amo. Se mantiver todos um pouco afastados, será que dói menos?
Só para constar, a morte pra mim, tem sabor daquele doce árabe Halawi, em um primeiro momento parece que comi areia (a primeira sensação que a perda nos causa), depois a sensação gordurosa faz com que a boca fique pegajosa (os pensamentos bagunçados indo de encontro um com o outro), por alguns instantes o sabor doce é único (memórias de momentos bons, mas que dura pouco pois a tristeza se sobrepõe), mas no final o doce desce pela garganta meio estranho (a não aceitação do fato) e o resto do dia me lembro dele (a busca incansável pelo motivo).
Bom, vou parar por aqui, senão isso vira consulta com o psicólogo e eu não quero sair da posição de ouvinte/leitora para ouvida/lida.