domingo, 22 de abril de 2012

O LOUCO SABOR DE BUENOS AIRES


Remeto-me à loucura, a base de todos meus escritos e pensamentos desnecessários. Loucura que me leva a pensar, a questionar minha existência.

Ao pensar no que vivi, declaro que fiz tudo pelas loucuras da vida. Mas não pensemos em loucuras nocivas, pensemos nas loucuras da saudade, da curiosidade, nas loucuras que nos fazem enxergar o mundo com outros olhos.

Tenho passado os dias me despedindo de Buenos Aires, dos espaços, das imagens, dos desejos que conquistei aqui, e isso tudo só percebi, pois os devaneios que a saudade que não tem remédio causa me fizeram enxergar as coisas além dos olhos. Enlouqueci. Senti cada fibra de meu corpo se transformar, porém, era como se aguardasse essa mudança por toda minha vida.

Preenchi meus dias de ideias e ideais, respirei a tão amada arte. Me descobri, aceitei o que sou. Encontrei meus reais pudores, descumpri com regras impostas pela criação. Desorganizei o externo e arrumei o interno.

Entro leve na nova vida.

Estive nos lugares desejados, conheci tipos únicos, senti, saboreei cada parte. Olho o que passei com orgulho, tenho história. Mas não quero história para contar aos meus, quero usá-la com o egoísmo que tenho direito, quero assisti-la em minha mente a qualquer momento, sorrir revendo o filme da minha vida.

Mesmo desejando o individual, agradeço à insanidade compartilhada, às risadas, aos vexames, à amizade simples, mas insubstituível.

Vou, mas sigo feliz, realizada no gosto da loucura que encontrei por aqui, um misto de livro velho e mate.

sábado, 21 de abril de 2012

A PORTA VERMELHA


Uma porta vermelha fechada nos levou para uma outra dimensão. Ao adentrar aquele ambiente a meia luz a certeza de uma noite única surgiu.

A mistura de fumaças tornou o espaço mais convidativo, uma espécie de jardim secreto surgiu à minha vista, um espaço único cheio de seres fantásticos, a adorável bagunça cultural.

Discussões sobre os tons de voz, os bartenders peruanos que vivem na Europa e decotes incômodos preencheram a madrugada.

Uma Babel linguística surgia a plenos pulmões. Os melhores chamuyeros estavam soltos pelo lugar, suas ideias furadas e seus sorrisos diagonais arrancaram gargalhadas de nossos lábios, a famosa vergonha alheia estava clara em nossos olhares, porém a noite nos trás a licença poética dos bêbados e dos loucos.

Entre olhares reprovadores e poses em uma mesa de bilhar tomamos outro rumo, buscamos um novo lugar. Os paralelepípedos de San Telmo eram como a estrada de tijolos amarelos do Mágico de OZ, o silêncio das ruas foi rompido abruptamente pelo debate sobre o sim ser um não disfarçado, enquanto uma grande amizade de uma noite era selada.

Amendoins que surgiram como mágica, elogios na porta banheiro e a sensação de que as paredes foram pitadas com um amarelo pálido deram àquela loucura boa um gosto diferente, porém, mais uma vez os olhares reprovadores de "hasta luego" nos impulsionaram para a nossa estrada dourada.

Ao som das canções em nossas mentes nos despedimos dos nossos amigos da noite e guardamos em nossos pensamentos as imagens de uma vivência maravilhosa.

QUÉ PASÓ AYER???

Ao entardecer de um dia que parecia domingo, mas não era, as risadas ecoavam pela sala de estar. As memórias de uma noite lúdica brincavam com o ar daquele espaço desorganizado cheio de sapatos que sofreram a alegrias dos corpos que os possuíam.
Elas foram felizes, viveram cada instante como se fosse o último, fizeram de seus sorrisos o cartão de visitas perfeito para um bom papo e de seus conselhos, aos olhos curiosos que passavam, uma discussão.
Entre as lembranças de tombos, lágrimas, saltos estragados, amizades que duraram apenas uma noite e risadas, muitas risadas, aquelas meninas que trazem seu país nos olhos concluíram que não importa o que passou na noite anterior, mas sim com quem passaram a noite anterior.
Os dias passam e me despeço aos poucos de Buenos Aires, estou saindo como cheguei, vivendo e dando vexame.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A VOZ (ENCORAJADORA) DA DEPENDÊNCIA...


Depender sempre me causou uma sensação de prisão, de um futuro engessado, mas hoje, ao ouvir a leveza das palavras do outro lado da linha descobri que a dependência me trouxe uma coragem única.

Preenchi meus pulmões com todo oxigênio possível e esclareci minhas vontades, porém se não houvesse a crença no meu melhor lado, jamais permitiria que vissem o que considero uma grande fraqueza.

Não foi uma desistência dos meus sonhos, mas sim, um reajuste, moldei meu caminho novamente, mudei de opinião, porém não cometi crime algum, a voz grossa que vinha do outro lado do continente me disse isso, aquela voz que muitas vezes foi sinônimo de respeito somado ao medinho que todo filho tem, hoje me trouxe o conforto amigo.

As vezes esqueço dos 26 anos que se passaram, ignoro algumas atitudes, mas não por maldade, ignoro por causa da naturalidade, sempre foi assim, sempre houve uma cumplicidade nas entrelinhas, mesmo que muitas vezes o frio na espinha me forçasse a esconder certas opiniões por uma imposição social de que sempre estamos um nível abaixo, o tratamento igualitário impera desde os tempos primórdios de nossa relação.

Num primeiro momento, sua imagem alta e imponente me assustava, suas ideias as vezes fugiam do meu controle, mas seu jeito diferente dos outros que conheci o tornou mais especial. Nossa relação, aos olhos desconhecidos, pode parecer um tanto distante, porém basta o segundo de um abraço para que toda a intimidade real surja.

É, a ansiedade se transformou, saiu da ideia da desistência, para a busca por um novo futuro, novos desejos. Agradeço à voz que sempre me acompanhou, pois sem ela eu seria mais um ser perdido no mundo.