domingo, 31 de julho de 2011

AQUELE 31 CHUVOSO...


Ele partiu num dia como esse, meio estranho, nem frio nem calor, com aquela chuva incômoda. Um dia choroso. Lembro-me da nossa última troca de olhares, ele estava me esperando. Vi de longe seu sorriso mais sincero. Naquele momento senti que ainda restava alguma memória, tenho certeza que fui reconhecida. Aquele sorriso era só meu.
Seu corpo enfraquecido exalava seus melhores dias, mas toda sua luz estava se apagando, fugindo. Eu pude ver, ele se despediu.
Forcei minha memória para aquele carnaval do ano anterior, parecia tão distante. Aquelas manhãs difíceis, enquanto todos dormiam, ficávamos num embate triste mas engraçado.
Voltei à realidade daquele veículo parado, numa tentativa de se proteger de uma chuva de granizo que anunciava o dia mais triste de minha vida.

Fechei meus olhos e novamente o sabor amargo que senti algumas horas antes, ele tinha partido, meu herói da malha amarela, foi como um soco no estômago. De volta ao carro, já em movimento, tentei me convencer de que tudo não passava de um sonho ruim. Era a mais dura realidade.
Ver seu olhos imóveis, sem vida foi o mesmo que perder um pedaço de minha alma.
Seis meses se passaram, ainda sinto aquele mesmo gosto de 31 de janeiro, amargo, cheio de saudade. Muitos dizem que é uma questão de tempo, outros que o amargor jamais passará.
Passo meus dias buscando uma receita, uma reza ou uma simples conversa que faça a dor passar, que tape esse buraco em meu peito. Só me resta aguardar, viver cada dia por vez, sempre tentando, buscando, esperando.

"O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido."
(Pablo Neruda)