terça-feira, 25 de dezembro de 2012

APENAS DESEJOS...

         Queria que as palavras saíssem do meu corpo com a mesma facilidade que as lágrimas. Queria que o amor fosse tão fácil quanto fazer um bolo. Queria que as conversas sérias pudessem acontecer com sorrisos. Que a solidão fosse uma festa. Que a distância se resolvesse com uma fotografia.
         Queria que a saudade só existisse por uma hora e que os beijos durassem semanas. 
         Queria que os sonhos mais loucos virassem realidade, que ao fechar os olhos, tudo se acertasse.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

SALVE O CORINTHIANS...



      

    Hoje tudo remete àqueles tempos passados. O bolo de cenoura, a sensação alegre de vitória do Corinthians, a lembrança de seu abraço que cheirava a café e cigarro.

Saudades daqueles dias onde as coisas eram simples, os dias mais longos, as pessoas eram mais alegres e a família, mais próxima.

Muito tempo se foi desde a última vez passei por aqui revirando a memória. Achei que tivesse esquecido, senti medo (para mim, o esquecimento é a pior morte).

Tive um estalo, um cheiro no ar, uma recordação única. Sensação maravilhosa, vontade de ligar e ouvir aquela risada gostosa do outro lado da linha enquanto aceito a derrota e o parabenizo pela vitória de seu time.

Hoje presenciei um fato histórico, que traria aquela sensação alegre já citada. Mesmo palmeirense, me sinto feliz pela vitória e canto aquele hino que meu avô me ensinara:

"Salve o Corinthians, campeão dos campeões (...)"

domingo, 22 de abril de 2012

O LOUCO SABOR DE BUENOS AIRES


Remeto-me à loucura, a base de todos meus escritos e pensamentos desnecessários. Loucura que me leva a pensar, a questionar minha existência.

Ao pensar no que vivi, declaro que fiz tudo pelas loucuras da vida. Mas não pensemos em loucuras nocivas, pensemos nas loucuras da saudade, da curiosidade, nas loucuras que nos fazem enxergar o mundo com outros olhos.

Tenho passado os dias me despedindo de Buenos Aires, dos espaços, das imagens, dos desejos que conquistei aqui, e isso tudo só percebi, pois os devaneios que a saudade que não tem remédio causa me fizeram enxergar as coisas além dos olhos. Enlouqueci. Senti cada fibra de meu corpo se transformar, porém, era como se aguardasse essa mudança por toda minha vida.

Preenchi meus dias de ideias e ideais, respirei a tão amada arte. Me descobri, aceitei o que sou. Encontrei meus reais pudores, descumpri com regras impostas pela criação. Desorganizei o externo e arrumei o interno.

Entro leve na nova vida.

Estive nos lugares desejados, conheci tipos únicos, senti, saboreei cada parte. Olho o que passei com orgulho, tenho história. Mas não quero história para contar aos meus, quero usá-la com o egoísmo que tenho direito, quero assisti-la em minha mente a qualquer momento, sorrir revendo o filme da minha vida.

Mesmo desejando o individual, agradeço à insanidade compartilhada, às risadas, aos vexames, à amizade simples, mas insubstituível.

Vou, mas sigo feliz, realizada no gosto da loucura que encontrei por aqui, um misto de livro velho e mate.

sábado, 21 de abril de 2012

A PORTA VERMELHA


Uma porta vermelha fechada nos levou para uma outra dimensão. Ao adentrar aquele ambiente a meia luz a certeza de uma noite única surgiu.

A mistura de fumaças tornou o espaço mais convidativo, uma espécie de jardim secreto surgiu à minha vista, um espaço único cheio de seres fantásticos, a adorável bagunça cultural.

Discussões sobre os tons de voz, os bartenders peruanos que vivem na Europa e decotes incômodos preencheram a madrugada.

Uma Babel linguística surgia a plenos pulmões. Os melhores chamuyeros estavam soltos pelo lugar, suas ideias furadas e seus sorrisos diagonais arrancaram gargalhadas de nossos lábios, a famosa vergonha alheia estava clara em nossos olhares, porém a noite nos trás a licença poética dos bêbados e dos loucos.

Entre olhares reprovadores e poses em uma mesa de bilhar tomamos outro rumo, buscamos um novo lugar. Os paralelepípedos de San Telmo eram como a estrada de tijolos amarelos do Mágico de OZ, o silêncio das ruas foi rompido abruptamente pelo debate sobre o sim ser um não disfarçado, enquanto uma grande amizade de uma noite era selada.

Amendoins que surgiram como mágica, elogios na porta banheiro e a sensação de que as paredes foram pitadas com um amarelo pálido deram àquela loucura boa um gosto diferente, porém, mais uma vez os olhares reprovadores de "hasta luego" nos impulsionaram para a nossa estrada dourada.

Ao som das canções em nossas mentes nos despedimos dos nossos amigos da noite e guardamos em nossos pensamentos as imagens de uma vivência maravilhosa.

QUÉ PASÓ AYER???

Ao entardecer de um dia que parecia domingo, mas não era, as risadas ecoavam pela sala de estar. As memórias de uma noite lúdica brincavam com o ar daquele espaço desorganizado cheio de sapatos que sofreram a alegrias dos corpos que os possuíam.
Elas foram felizes, viveram cada instante como se fosse o último, fizeram de seus sorrisos o cartão de visitas perfeito para um bom papo e de seus conselhos, aos olhos curiosos que passavam, uma discussão.
Entre as lembranças de tombos, lágrimas, saltos estragados, amizades que duraram apenas uma noite e risadas, muitas risadas, aquelas meninas que trazem seu país nos olhos concluíram que não importa o que passou na noite anterior, mas sim com quem passaram a noite anterior.
Os dias passam e me despeço aos poucos de Buenos Aires, estou saindo como cheguei, vivendo e dando vexame.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A VOZ (ENCORAJADORA) DA DEPENDÊNCIA...


Depender sempre me causou uma sensação de prisão, de um futuro engessado, mas hoje, ao ouvir a leveza das palavras do outro lado da linha descobri que a dependência me trouxe uma coragem única.

Preenchi meus pulmões com todo oxigênio possível e esclareci minhas vontades, porém se não houvesse a crença no meu melhor lado, jamais permitiria que vissem o que considero uma grande fraqueza.

Não foi uma desistência dos meus sonhos, mas sim, um reajuste, moldei meu caminho novamente, mudei de opinião, porém não cometi crime algum, a voz grossa que vinha do outro lado do continente me disse isso, aquela voz que muitas vezes foi sinônimo de respeito somado ao medinho que todo filho tem, hoje me trouxe o conforto amigo.

As vezes esqueço dos 26 anos que se passaram, ignoro algumas atitudes, mas não por maldade, ignoro por causa da naturalidade, sempre foi assim, sempre houve uma cumplicidade nas entrelinhas, mesmo que muitas vezes o frio na espinha me forçasse a esconder certas opiniões por uma imposição social de que sempre estamos um nível abaixo, o tratamento igualitário impera desde os tempos primórdios de nossa relação.

Num primeiro momento, sua imagem alta e imponente me assustava, suas ideias as vezes fugiam do meu controle, mas seu jeito diferente dos outros que conheci o tornou mais especial. Nossa relação, aos olhos desconhecidos, pode parecer um tanto distante, porém basta o segundo de um abraço para que toda a intimidade real surja.

É, a ansiedade se transformou, saiu da ideia da desistência, para a busca por um novo futuro, novos desejos. Agradeço à voz que sempre me acompanhou, pois sem ela eu seria mais um ser perdido no mundo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

PERSONAGENS PORTEÑOS: A DAMA DE AMARELO


"Interrompendo minha leitura ela adentrou o vagão com seu modelito ensolarado, um chapéu verde esparramado adornado por uma flor cor-de-rosa. Aquela dama de amarelo, com um sorriso imenso, fez da idade o seu melhor, utilizando da licença poética, que adquirira ao longo da vida, para desacelerar e iluminar aquele espaço úmido e escondido, cheio de pessoas em movimentação."

CAMINHOS QUE SE CRUZAM...


Nunca gostei de ler biografias, pois sempre achei a vida dos outro meio sem sentido para mim, mas uma amiga apaixonada pelas palavras, assim como eu, me presenteou com um livro sensacional, onde pude me encontrar.
Se reconhecer em um alguém desconhecido é uma tarefa difícil, mas me descobri em Patti Smith. Nunca tinha ouvido falar dela, pois minhas aventuras pelo mundo do rock são recentes, mas quando ganhei suas memórias me segurei durante muito tempo para não buscar um vídeo com suas músicas, queria conhecer seu mundo antes de escutar suas melodias, afinal eu sempre gosto mais das músicas do que dos músicos, acho que me apego demais as palavras, ignorando quem as emite.
O ato de sair da minha casa e me aventurar num espaço desconhecido me aproximou de Patty, ver uma estrutura social de fora, sendo que você a vive todos os dias é um experiência única, pois podemos enxergar cada detalhe, cada personagem que surge em nosso campo de visão, como num passe de mágica, mas registrar o que vemos é algo um tanto difícil.
Em Só Garotos (esse é o título), conseguia fechar meus olhos e ver cada personagem, cada cenário, as artes, as músicas, tudo o que passou no Hotel Chelsea, cada nascimento de um novo artista e morte dos grandes, dos ditos imortais.
Sei que soo um pouco romântica demais, que para muitos o ato de ver beleza e paixão num período tão louco como os anos 1960 e 1970 é muito complicado, afinal a maneira mais simples de se retratar a época é com o famoso "Sexo, drogas e rock'n roll", mas senti nas memórias de Patti uma certa leveza, uma beleza diferente, cheia de cores, cheia de vida, por mais que muitas dessas "vidas leves" tenha se auto destruído, tenho certeza que foram plenas, pois a qualidade da vida não se mede pelo tempo que vivemos, mas o que fazemos enquanto vivemos. Não sou juíza daqueles que se foram, mas defendo a liberdade, não importando aonde ela te leva, afinal nós que fazemos nosso caminho e temos que ter consciência de onde vamos e queremos chegar.
Como em tudo o que leio, a carga de dependência dessa união de letras me levou á uma lentidão absurda, pois a sensação de término me mata, a despedida das ruas de NY, das noites loucas no loft, dos amores e das amizades, me despedir de algo que não vivi. Mas nada me doeu mais do que me despedir do grande amor, me despedir da amizade mais linda que já tive conhecimento em toda a minha vida.
Agora escuto Patti cantar e com lágrimas umedecendo minha face me despeço dois (des)conhecidos que me acompanharam nos últimos meses.

"Muito já se falou sobre Robert, e outras coisas ainda serão ditas. Os rapazes imitarão seu jeito de andar. As garotas usarão vestidos brancos e chorarão por seus cabelos cacheados. Ele será condenado e adorado. Seus excessos serão malditos e romanceados. Por fim, descobrirão a verdade em seu trabalho, o corpo físico do artista. Isso não se afastará. os homens não podem julgá-lo. Pois é a Deus que a arte canta, e afinal pertence a ele."

(Só Garotos, Patti Smith)

sábado, 10 de março de 2012

PALAVRAS PERDIDAS...


Os primeiros sentimentos registrados são os mais importantes, afinal colocar em palavras o que sentimos, torna tudo mais real, ainda mais quando palavras simples, mas muito sinceras, perdidas na memória dos meus lindos dias. Passado lindo esse que me acompanha...




'Hoje encontrei na rua um rapaz vestindo uma camiseta com frases estranhas e engracadas, bermudas largas e tênis furado, uma visão totalmente monocromatica... naquele momento pensei de onde tinha surgido aquela figura diferente que me incomodava tanto... momentos depois lembrei do sonho da noite passada... era ele, o super heroi do meu sonho, um misto de poeta e revolucionário, o cara das mil expressões faciais, aquele que me salvou tantas noites... afinal, ele é real, ele existe... por alguns instantes não soube o que fazer, mas logo me dei conta de que encontrá-lo era um sinal de novos tempos viriam... hoje, o super herói não mora mais nos meus sonhos, mas sim em meu coração... e ele não poderia ser melhor, afinal foi feito sob medida pra mim.'










segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SÍNDROME DE TOWANDA...


Lembro-me da primeira vez que minha vó me viu chorar assistindo um filme, mas essa memória gira em torno de uma série de acontecimentos importantes em minha vida.
Naquele dia descobri um dos filmes mais brilhantes que já assisti, "Tomates Verdes Fritos". O nome me chamou a atenção na propaganda, afinal pensei em como seria um filme com esse nome, mas ao assisti-lo, me encontrei no mundo, senti que queria ser Towanda, a mulher destemida, forte que nasceu em uma família simples mas cheia de grandezas.
Sabe quando se descobre uma vocação que nos assusta? Pois foi assim que descobri a História, o poder dos fatos e como poderia viver daquilo.
No mesmo momento em que quis ser Towanda e amante da História, decidi ser mulher (aos 12 anos, ser mulher tinha outro sentido), decidi que tomaria as rédeas da minha vida.
Sei que muitos se perguntam como uma menina de 12 anos pode pensar nisso, bom, eu pensava.
Pensava no que eu queria da vida e no que ela me daria se eu a tratasse com dignidade, como eu conquistaria o mundo (o meu mundo, sem pretensões descabidas, por favor) e como me faria ser ouvida.
Levantei num repente, fui até a sala e gritei em plenos pulmões "TOWANDAAA", minha vó levou um susto e perguntou se eu estava ficando louca, respondi que só queria ser uma grande mulher, ela riu e disse: "Continue assim, pois você está seguindo o caminho certo, afinal, até a nossa loucura tem que ser clara e forte".
Voltei para o meu quarto, terminei de assistir o filme com o gosto do amadurecimento em minha boca, aquele gostinho de menta, uma sensação fresca, nova.
Pode parecer loucura, mas aquele filme me trouxe mais do que diversão, me trouxe o que chamo hoje de Síndrome de Towanda, ou seja, a necessidade da força, de amar, a simplicidade de se libertar.

APENAS UM DESABAFO...


Faço um apelo à todos. Peço observação, cuidado aos que estão ao nosso lado. Olhemos mais as pessoas nos olhos, escutemos mais o silêncio da juventude, isso pode salvar.
Mas não pensem em salvação física, pois o corpo é carne consumida pela terra, pensem na salvação espiritual, nossa e dos nossos. Aqueles que vemos todos os dias e que muitas vezes ignoramos são nossos, nos pertencem de alguma forma.
Ser professor não é apenas passar um conhecimento adquirido de um conjunto de papéis que agrupam contas, fatos e palavras. Essas informações nem sempre são as necessárias.
Sei que eles não tem nosso sobrenome, mas muitos nos vem como a chance única de atenção, a certeza de um sorriso sincero.
Não digo que devemos adotá-los, digo que devemos ama-los de alguma forma, saber quem são aqueles que nos observam durante tantas horas no dia, pois a sensação de impotência que corre em minha mente ao ver o sofrimento de pais que recebem a notícia da perda de um filho é apavorante, ainda mais quando lembro que ensurdecemos nossos corações.
Será que estamos nos perdendo em meio às facilidades? Será que perdemos a sensibilidade, a compaixão pelo outro?
As lágrimas invadem meus olhos ao pensar que os sonhos de muitas crianças são ignorados, que elas já não podem mais esperar o futuro, pois ele foi arrancado de seus pequenos corações.
Hoje, alguns fios que nos prendiam à esperança se arrebentaram, mas os meus, eu guardo bem seguros dentro do meu coração e espero que todos se agarrem aos seus, pois sem nossas crianças, o que será de nós?


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

BREVIDADE DA VIDA...


Entre as ondas de calor que rondam meu quarto e as melodias de Cazuza que rondam meus ouvidos, pensei no tempo e na poesia. Surgiu, assim, como se fosse um estalo, veio a criatividade, a tentativa de prender a beleza com as palavras.
Eu, que sempre fujo das inspirações diárias, resolvi abandonar o sono e buscar nas horas da madrugada silabas que completassem meus devaneios mais profundos.
Que trabalho difícil esse de escrever, que dureza colocar no papel (com a tecnologia, no computador) as sensações que envolvem meu corpo neste momento. A ansiedade dentro do meu peito, os caminhos que se iluminam, as portas que se abrem e, ao invés de andar, eu paro.
Paro, olho e escuto mais uma vez Cazuza dizendo que a vida é breve, penso novamente no tempo, nas escolhas que fiz, em tudo o que já vivi. Será que valeu a pena?
Aceito, faria tudo novamente, sem mudar uma vírgula, pois a vida foi boa comigo, transformou meus erros em aprendizado, meus machucados em troféus e as minhas vitórias, ah, essas eu deixo para os outros admirarem, pois se venci não preciso mais (ainda preciso, mas tento praticar o desapego diário, quase que me enganando) quero novos desafios, viver da adrenalina, do frio na barriga, viver o tempo que resta.
A vida é passageira, mas o tempo é relativo, em um ano posso viver a eternidade, mas posso perder a alma em apenas um segundo.




"Com papel e caneta na mão, eu posso parar a beleza."

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

UM SIMPLES SABONETE...


Acho que em todos os textos falo sobre as minhas memórias, mas não consigo me imaginar vivendo sem lembrar de que tive uma vida muito linda e feliz (e ela está cada vez melhor), por isso mais uma vez venho aqui falar das cenas que preenchem minhas noites de insônia.
Durante uma volta em um ônibus pelas "calles" de Buenos Aires, entre as lembranças de uma infância não muito distante, me deparei com uma personagem que marcou a minha vida, e tenho certeza de que marcou a vida de muitas pessoas no bairro em que cresci em São Paulo, a Bela Vista, popularmente chamado de Bexiga.
Era conhecido com Toninho Babão, por causa de uma deficiência que eu desconheço. Vivia na R. Manoel Dutra, sempre sentado na porta do joalheiro Mirimi. Todos mexiam com ele, pois era um palmeirense fanático, que ficava muito bravo quando a molecada do bairro gritava "RIPA NO PALESTRA", acho que nada tirava mais o Toninho do sério do que aquilo.
Eu via tudo de um ângulo mais simples, da visão de uma menina de uns 5 ou 6 anos de idade, onde os pequenos gestos são marcantes. Nunca aborreci o Toninho, o amava como um amigo, pois ele me tratava assim.
Aquele homem com pensamentos de criança marcou minha infância de uma forma única. Durante anos ele se sentava a porta da minha casa, na Rua Dr. Luís Barreto, no dia do meu aniversário com um pequeno embrulho em suas mãos, uns dos presentes mais singelos e adoráveis que já recebi, um sabonete.
Hoje vejo algo muito maior naquilo, vejo um sentimento impossível de descrever, pois o valor não estava na matéria, mas no olhar e nas tentativas do Toninho de falar para todo mundo que me conhecia desde pequena. Com seus gestos com as mãos e sua fala comprometida, ele demostrava um afeto por mim que acho que nunca mais encontrei em ninguém.
Me lembro do dia em que recebi a notícia de seu falecimento, era um domingo de calor em Santos, naquele instante senti uma parte, maravilhosa, da minha infância indo embora junto com ele, chorei como se tivesse perdido um parente próximo.
Naquele dia perdi um grande amigo com quem nunca troquei uma palavra, mas que sempre falou com seus lindos olhos azuis o quanto eu era importante para o seu mundo, e isso já me bastava.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

365 DIAS...



Todo historiador considera 50 anos um período curto, perto da grandeza da história mundial, mas hoje, parei para analisar a quantidade de fatos, mudanças e situações que cabem em um ano.
Há 365 dias atrás eu estava empregada como professora de História e Geografia em uma escola particular da cidade de Santos, lia o necessário, pensava grande para o tamanho da cidade na qual vivia, mas pequeno, se compararmos o tamanho de possibilidades que rodam o universo. Há 365 dias atrás eu acordei as 5h30 da madrugada para o primeiro dia de aula, passaria as próximas 8 horas em meio a uma mistura de ansiedade pelos novos amigos e nostalgia pelo ano que passou. Há 365 dias eu esqueci de dizer feliz aniversário para minha vó que completava 75 anos.
Tantos dias se passaram, tantas lágrimas e sorrisos foram lançados para os amores presentes e ausentes. Mudanças de cidades, mudanças de vida, de status de relacionamento, mudanças de opinião política e cultural, tudo mudou, eu mudei.
Há 365 dias atrás ele se foi, o homem charmoso da malha amarela.
É, eu mudei. Uma força única habita dentro do meu coração, algo demasiado grande, mas que surgiu em apenas 365 dias.
Hoje leio mais, deixei de ser professora para voltar a universidade, abandonei o meu orgulho e me entreguei de vez ao amor, me apaixonei por Buenos Aires, sinto mais saudades, valorizo mais minha família, vivo longe da praia, mas aceitei viver sozinha.
Acho que 365 dias tem muito mais que um ano, em 365 dias cabe uma vida.