
Nunca gostei de ler biografias, pois sempre achei a vida dos outro meio sem sentido para mim, mas uma amiga apaixonada pelas palavras, assim como eu, me presenteou com um livro sensacional, onde pude me encontrar.
Se reconhecer em um alguém desconhecido é uma tarefa difícil, mas me descobri em Patti Smith. Nunca tinha ouvido falar dela, pois minhas aventuras pelo mundo do rock são recentes, mas quando ganhei suas memórias me segurei durante muito tempo para não buscar um vídeo com suas músicas, queria conhecer seu mundo antes de escutar suas melodias, afinal eu sempre gosto mais das músicas do que dos músicos, acho que me apego demais as palavras, ignorando quem as emite.
O ato de sair da minha casa e me aventurar num espaço desconhecido me aproximou de Patty, ver uma estrutura social de fora, sendo que você a vive todos os dias é um experiência única, pois podemos enxergar cada detalhe, cada personagem que surge em nosso campo de visão, como num passe de mágica, mas registrar o que vemos é algo um tanto difícil.
Em Só Garotos (esse é o título), conseguia fechar meus olhos e ver cada personagem, cada cenário, as artes, as músicas, tudo o que passou no Hotel Chelsea, cada nascimento de um novo artista e morte dos grandes, dos ditos imortais.
Sei que soo um pouco romântica demais, que para muitos o ato de ver beleza e paixão num período tão louco como os anos 1960 e 1970 é muito complicado, afinal a maneira mais simples de se retratar a época é com o famoso "Sexo, drogas e rock'n roll", mas senti nas memórias de Patti uma certa leveza, uma beleza diferente, cheia de cores, cheia de vida, por mais que muitas dessas "vidas leves" tenha se auto destruído, tenho certeza que foram plenas, pois a qualidade da vida não se mede pelo tempo que vivemos, mas o que fazemos enquanto vivemos. Não sou juíza daqueles que se foram, mas defendo a liberdade, não importando aonde ela te leva, afinal nós que fazemos nosso caminho e temos que ter consciência de onde vamos e queremos chegar.
Como em tudo o que leio, a carga de dependência dessa união de letras me levou á uma lentidão absurda, pois a sensação de término me mata, a despedida das ruas de NY, das noites loucas no loft, dos amores e das amizades, me despedir de algo que não vivi. Mas nada me doeu mais do que me despedir do grande amor, me despedir da amizade mais linda que já tive conhecimento em toda a minha vida.
Agora escuto Patti cantar e com lágrimas umedecendo minha face me despeço dois (des)conhecidos que me acompanharam nos últimos meses.
"Muito já se falou sobre Robert, e outras coisas ainda serão ditas. Os rapazes imitarão seu jeito de andar. As garotas usarão vestidos brancos e chorarão por seus cabelos cacheados. Ele será condenado e adorado. Seus excessos serão malditos e romanceados. Por fim, descobrirão a verdade em seu trabalho, o corpo físico do artista. Isso não se afastará. os homens não podem julgá-lo. Pois é a Deus que a arte canta, e afinal pertence a ele."
(Só Garotos, Patti Smith)