
Como professora de História, falo muito do 7 de setembro, dia em que o Brasil se tornou independente, mas sempre agregando um valor intelectual ao evento. Porém esqueço o quanto esta data tem um valor sentimental para mim, na realidade não esqueço, acho que é por isso que falo com tanta vontade, por ter um estalo de nostalgia.
Sabe aquele dia que, mesmo depois de muito anos, não abandona a memória? Para mim, esse dia é sete de setembro de 1996, um sábado.
Um sábado de sol, é foi esse o dia, meu primeiro desfile de 7 de setembro. Fiquei encantada com todas aquelas crianças marchando no ritmo da fanfarra.
Parece que foi ontem. Era meu primeiro final de semana morando em Santos. Minha mãe e minha tia Bel resolveram fazer um passeio até a avenida da praia, comigo e com a Amandinha, que nem tinha completado um ano.
Minha mãe, como sempre, muito preocupada nos besuntou de protetor solar. Morávamos na r. General Rondon, num prédio marrom, (foi neste prédio que aprendi muitas coisas, mas essa já é uma outra história) à uma quadra da praia. Minha tia colocou a Amanda no carrinho e fomos, as quatro, em direção à praia.
O sol estava forte, mas a temperatura era perfeita para o passeio. O calçadão estava cheio de pessoas que queriam assistir o desfile, outras que queriam apenas caminhar e outras, como eu, que estavam descobrindo um mundo novo, cheio de cores e sons. Era menina com bastão aqui, menino fardado ali, muito militares, acho que neste momento comecei a estruturar a minha opinião política a partir do que ouvi minha tia e minha mãe conversando com uma senhora quase da idade da minha vó, mas esse é um assunto que não me permito falar (rs). Todos os instrumentos num ritmo único, uma batida gostosa. Não era bem uma melodia, mas era a balada que enchia o ar com a graça e a delicadeza dos movimentos das crianças que representavam suas escolas.
Mas o momento que marcou esse dia não foi bem o desfile. Quando tudo se acalmou, o movimento da praia estava se transformando, resolvemos (minha tia e minha mãe resolveram, afinal eu só era uma criança) caminhar na calçada da praia. Essa caminhada foi única, pois foi assim que comecei a descobrir a cidade. Andamos até o canal 3 e nos demos conta da distância. Por alguns instantes nos desesperamos, mas como toda família de pessoas gordinhas que se preze, fomos tomar um sorvete com o pouco dinheiro que minha tia tinha no bolso, afinal para que levar mais se só íamos até a praia perto de casa.
Andamos mais um pouco e adentramos a Ana Costa, que tinha um visual muito diferente do atual, eu, particularmente, achava mais charmosa. Tomamos um sorvete do Mc Donalds e depois voltamos para casa, onde minha vó já estava quase chamando a polícia por causa do nosso desaparecimento
Neste momento você deve estar se perguntando sobre onde está a magia da coisa. Bom, eu te digo. A magia do momento está na grandiosidade dessa memória em minha vida. Lembro de cada segundo daquele dia. Fecho os olhos e consigo sentir o cheiro da praia e escutar as pessoas passando ao meu lado. Sinto minha mãe pegar na minha mão, de vez em quando, enquanto conversava com a minha tia sobre assuntos que eu não tinha a menor ideia do que se tratava, mas fazia cara de entendida. Lembro de brincar com a Amandinha e ela sorrir de uma maneira única, com uma boca com poucos dentes.
A lembrança é mágica. Pode parecer uma bobagem para alguns, mas pode ser o refugio de outros.