
Ontem, mais uma vez me deparei com a estranheza da perda. Ela adentrou meu quarto, ascendeu a luz e disse: ele morreu, eu tenho certeza, olha o que escreveram. É assim que a morte chega, sem avisar, sem explicar o motivo.
Quando eu era pequena achava que morrer era algo complicado, não percebia tanto a morte, tinha a mesma opinião que a minha priminha, "mamãe, como ele morreu se não era velho?", mas com o passar do tempo a morte se torna algo mais rotineiro, atingiu o nível da normalidade.
Só que a minha maior dúvida é por que não conseguimos lidar com algo considerado tão simples, que acontece todos os dias?
Perder alguém nos causa um vazio inenarráel, é como se a mente parasse por um tempo, dependendo do tamanho da dor, indeterminado. Mas mesmo sabendo que dói, que machuca, tem pessoas que ainda tem a falta de sensibilidade de dizer "Você é forte, supera isso fácil!". Mas se eu não quiser superar? E se eu precisar sofrer muito? Quem sabe de fato o que eu preciso? Quem sabe o tamanho do meu sentimento pelo outro? Afinal se tem algo que não se contabiliza, esse algo é sentimento.
Nos últimos anos perdi muitas pessoas, cada uma com um nível de participação em minha vida, algumas eu aceitei a partida, mas tem aquelas que não me saem do pensamento diariamente, pois não consigo pensar em certos momentos sem elas.
Sei que parece meio mórbido falar sobre a morte, mas pensem bem, a morte está no ranking das maiores loucuras do homem. As pessoas ganham dinheiro com a morte, ou seja, ganham dinheiro com o sofrimento e a tristeza do outro, acho isso mais mórbido do que apenas falar sobre. Eu sou uma pessoa que nunca me senti muito confortável com o assunto, na realidade ainda não me sinto.
Neste momento muitos devem se perguntar o motivo dessa postagem, afinal, que pessoa fala de algo que a machuca tanto?
Um certo alguém sempre pede a minha sinceridade, mas hoje acordei sentindo que não tenho sido sincera comigo, estou com medo e não aceito, me sinto meio perdida com a proximidade da perda iminente da força da minha vida, do meu ar. Tento todos os dias acreditar que não é verdade ou que mesmo quando a matéria se for, nós teremos um ao outro num outro plano, mas essa só é uma medida paliativa para aliviar a minha mente.
A nova conquista da minha vida, expor meus medos para o mundo, sem pensar no que o mundo acha de tudo isso. Além disso, perceber que a morte está relacionada ao medo que está totalmente ligado às reações rudes que tenho com as pessoas que amo. Se mantiver todos um pouco afastados, será que dói menos?
Só para constar, a morte pra mim, tem sabor daquele doce árabe Halawi, em um primeiro momento parece que comi areia (a primeira sensação que a perda nos causa), depois a sensação gordurosa faz com que a boca fique pegajosa (os pensamentos bagunçados indo de encontro um com o outro), por alguns instantes o sabor doce é único (memórias de momentos bons, mas que dura pouco pois a tristeza se sobrepõe), mas no final o doce desce pela garganta meio estranho (a não aceitação do fato) e o resto do dia me lembro dele (a busca incansável pelo motivo).
Bom, vou parar por aqui, senão isso vira consulta com o psicólogo e eu não quero sair da posição de ouvinte/leitora para ouvida/lida.
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